quarta-feira, 3 de novembro de 2010

As eleições e o preconceito contra o Nordeste



Post no Twitter gera onda de respostas. Releia o que a professora Tânia Bacelar escreveu depois do 1º turno

A polêmica aberta pela da estudante de Direito Mayara Petruso, que postou no Twitter mensagens ofensivas aos nordestinos, ganhou um novo capítulo.

A Ordem dos Advogados do Brasil de Pernambuco deverá entrar nesta quarta-feira 3 na Justiça paulista contra a universitária que responderá por crime de racismo e incitação pública ao crime. As duas frases postadas no Twitter que desencadearam uma série de injúrias aos nordestinos e respostas de milhares de usuários da rede, foram:

“Afunda Brasil. Dêem direito de voto pros nordestinos e afundem o país de quem trabalhava pra sustentar os vagabundos que fazem filho para ganhar a bolsa 171”

“Nordestino não é gente, faça um favor a SP, mate um nordestino afogado”

Mayara tentou se desculpar ao postar em um site de relacionamento:

Minhas sinceras desculpas ao post colocado no ar, o que era algo pra atingir outro foco, acabou saindo fora de controle. Não tenho problemas com essas pessoas, pelo contrário, errar é humano, desculpa mais uma vez.”

Logo após os resultados do 1ºturno a economista e professora do Departamento de Economia da Universidade Federal de Pernambuco, Tânia Bacelar Araújo discorreu sobre o preconceito de parte da elite em relação ao voto nordestino. É mais que oportuno republicar o texto, que foi publicado aqui em 19 de outubro.

O voto do Nordeste

Por Tânia Bacelar Araújo*

A ampla vantagem da candidata Dilma Rousseff no primeiro turno no Nordeste reacende o preconceito de parte de nossas elites e da grande mídia face às camadas mais pobres da sociedade brasileira e em especial face ao voto dos nordestinos. Como se a população mais pobre não fosse capaz de compreender a vida política e nela atuar em favor de seus interesses e em defesa de seus direitos. Não “soubesse” votar.

Desta vez, a correlação com os programas de proteção social, em especial o “Bolsa Família” serviu de lastro para essas análises parciais e eivadas de preconceito. E como a maior parte da população pobre do país está no Nordeste, no Norte e nas periferias das grandes cidades (vale lembrar que o Sudeste abriga 25% das famílias atendidas pelo “Bolsa Família”), os “grotões”- como nos tratam tais analistas – teriam avermelhado. Mas os beneficiários destes Programas no Nordeste não são suficientemente numerosos para responder pelos percentuais elevados obtidos por Dilma no primeiro turno : mais de 2/3 dos votos no MA, PI e CE, mais de 50% nos demais estados, e cerca de 60% no total ( contra 20% dados a Serra).

A visão simplista e preconceituosa não consegue dar conta do que se passou nesta região nos anos recentes e que explica a tendência do voto para Governadores, parlamentares e candidatos a Presidente no Nordeste.

A marca importante do Governo Lula foi a retomada gradual de políticas nacionais, valendo destacar que elas foram um dos principais focos do desmonte do Estado nos anos 90. Muitas tiveram como norte o combate às desigualdades sociais e regionais do Brasil. E isso é bom para o Nordeste.

Por outro lado, ao invés da opção estratégica pela “inserção competitiva” do Brasil na globalização – que concentra investimentos nas regiões já mais estruturadas e dinâmicas e que marcou os dois governos do PSDB -, os Governos de Lula optaram pela integração nacional ao fundar a estratégia de crescimento na produção e consumo de massa, o que favoreceu enormemente o Nordeste. Na inserção competitiva, o Nordeste era visto apenas por alguns “clusters” (turismo, fruticultura irrigada, agronegócio graneleiro…) enquanto nos anos recentes a maioria dos seus segmentos produtivos se dinamizaram, fazendo a região ser revisitada pelos empreendedores nacionais e internacionais.

Por seu turno, a estratégia de atacar pelo lado da demanda, com políticas sociais, política de reajuste real elevado do salário mínimo e a de ampliação significativa do crédito, teve impacto muito positivo no Nordeste. A região liderou – junto com o Norte – as vendas no comercio varejista do país entre 2003 e 2009. E o dinamismo do consumo atraiu investimentos para a região. Redes de supermercados, grandes magazines, indústrias alimentares e de bebidas, entre outros, expandiram sua presença no Nordeste ao mesmo tempo em que as pequenas e medias empresas locais ampliavam sua produção.

Além disso, mudanças nas políticas da Petrobras influíram muito na dinâmica econômica regional como a decisão de investir em novas refinarias (uma em construção e mais duas previstas) e em patrocinar – via suas compras – a retomada da indústria naval brasileira, o que levou o Nordeste a captar vários estaleiros.

Igualmente importante foi a política de ampliação dos investimentos em infra-estrutura – foco principal do PAC – que beneficiou o Nordeste com recursos que somados tem peso no total dos investimentos previstos superior a participação do Nordeste na economia nacional. No seu rastro,a construção civil “bombou” na região.

A política de ampliação das Universidades Federais e de expansão da rede de ensino profissional também atingiu favoravelmente o Nordeste, em especial cidades médias de seu interior. Merece destaque ainda a ampliação dos investimentos em C&T que trouxe para Universidades do Nordeste a liderança de Institutos Nacionais – antes fortemente concentrados no Sudeste – dentre os quais se destaca o Instituto de Fármacos ( na UFPE) e o Instituto de Neurociências instalado na região metropolitana de Natal sob a liderança do cientista brasileiro Miguel Nicolelis que organizará uma verdadeira “cidade da ciência” num dos municípios mais pobres do RN ( Macaíba).

Igualmente importante foi quebrar o mito de que a agricultura familiar era inviável. O PRONAF mais que sextuplicou seus investimentos entre 2002 e 2010 e outros programas e instrumentos de política foram criados ( seguro – safra , Programa de Compra de Alimentos, estimulo a compras locais pela Merenda Escolar, entre outros) e o recente Censo Agropecuário mostrou que a agropecuária de base familiar gera 3 em cada 4 empregos rurais do país e responde por quase 40% do valor da produção agrícola nacional. E o Nordeste se beneficiou muito desta política, pois abriga 43% da população economicamente ativa do setor agrícola brasileiro.

Resultado: o Nordeste liderou o crescimento do emprego formal no país com 5,9% de crescimento ao ano entre 2003 e 2009, taxa superior a de 5,4% registrada para o Brasil como um todo, e aos 5,2% do Sudeste, segundo dados da RAIS.

Daí a ampla aprovação do Governo Lula em todos os Estados e nas diversas camadas da sociedade nordestina se refletir na acolhida a Dilma. Não é o voto da submissão – como antes – da desinformação, ou da ignorância. É o voto da auto- confiança recuperada, do reconhecimento do correto direcionamento de políticas estratégicas e da esperança na consolidação de avanços alcançados – alguns ainda insipientes e outros insuficientes. É o voto na aposta de que o Nordeste não é só miséria (e, portanto, “Bolsa Família”), mas uma região plena de potencialidades. 

Fonte: Carta Capital

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Editor do DN é demitido por fazer matéria sobre livro que fala de Marxismo


No momento em que a grande mídia distorce e critica o projeto de indicação aprovado na Assembleia Legislativa do Ceará, que propõe a criação do Conselho Estadual de Comunicação - sob a alegação de que vai "cercear a liberdade de expressão"­ -, o jornal Diário do Nordeste demitiu de forma arbitrária, no último dia 18 de outubro, o jornalista Dalwton Moura, por ter escrito e editado matéria no Caderno 3 sobre as revoluções marxistas que marcaram os séculos XIX e XX.

O caderno especial, de seis páginas, foi considerado pela direção da empresa "panfletário" e "subversivo", além de "inoportuno ao momento atual".Tendo, entre outras fontes, o filósofo Michael Löwi, que estaria em Fortaleza para lançar o livro "Revoluções" (com imagens que marcaram os movimentos contestatórios decisivos para a história dos últimos dois séculos), a matéria foi pautada pelo editor-chefe do jornal, Ildefonso Rodrigues, tendo sido sugerida pela historiadora e professora Adelaide Gonçalves, da Universidade Federal do Ceará (UFC). No entanto, ao comunicar a demissão do jornalista, o editor-chefe se limitou a dizer que "não sabia o conteúdo da reportagem até vê-la publicada".



O caso do jornalista Dalwton Moura não se trata de demissão por delito de opinião, pois ele não emitiu, em qualquer momento, juízo de valor sobre o conteúdo da pauta. Perdeu o emprego muito menos por incompetência ou negligência na sua função. Ironicamente, o trabalhador foi dispensado simplesmente por cumprir uma pauta que, depois de publicada, percebeu-se ser contra os interesses da empresa. A direção do jornal não pode alegar, no entanto, que desconhecia o conteúdo da matéria, pois além de ter sido pautado pelo editor-chefe, o assunto foi relatado em, pelo menos, quatro reuniões de pauta que antecederam sua publicação.

A demissão do então editor do Caderno 3 expõe o abismo entre o discurso da grande mídia conservadora, que se diz ameaçada em sua liberdade de expressão ­- ­inclusive atacando com este falso argumento o projeto do Conselho de Comunicação do Estado -, e suas práticas cotidianas, restritivas ao exercício profissional dos jornalistas, bem como à livre opinião de colaboradores e leitores. "O Sindicato dos Jornalistas do Ceará protesta contra esta demissão arbitrária e mantém sua luta pela verdadeira liberdade de expressão para os jornalistas e para todos os brasileiros, manifestada em projetos como o do Conselho de Comunicação", afirma o presidente do Sindjorce, Claylson Martins.

Fonte: SindJorce

Documentários de Verdade!

Para quem gosta de documentários, segue o link de um blog muito legal e com um grande conteúdo de videos para download.

http://docverdade.blogspot.com/

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segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Nota oficial de posicionamento político da Enecos sobre as Novas Diretrizes Curriculares par


No dia 8 de outubro, sexta-feira ocorreu no auditório do Conselho Nacional de Educação (CNE), a Audiência Pública que debateu as Novas Diretrizes Curriculares do Jornalismo (NDJ). No presente momento, a Enecos se fez representada na reunião explanando para todos e todas que estavam presentes na audiência ou acompanhando pela internet o posicionamento da Executiva frente às NDJ. Para reafirmar e oficializar a nossa compreensão política do que se refere à formação profissional do comunicador social, viemos por meio deste manifestar a nossa decisão:

· Entendemos que qualquer projeto político que se refira a formação profissional do comunicador, sua modificação, ou criação de outros parâmetros, deve, sem sombra de dúvida, garantir a participação de diferentes setores da sociedade civil que estejam relacionados direto ou indiretamente com a comunicação social. É preciso garantir a pluralidade do debate político em todos os processos, para que a proposta seja socialmente referendada;

· A constituição de três audiências públicas (Rio de Janeiro, São Paulo e Recife) para a formulação pública da proposta de NDJ não contempla nem 1% das escolas de comunicação existentes no Brasil. Inclusive nas três audiências tiveram representações estudantis, porém a ENECOS, não recebeu nenhum convite oficial para a participação nas audiências. É necessário garantir o debate político sobre o tema abordado para que professores, estudantes, técnicos e comunicadores sociais possam refletir, debater e propor políticas; Sem debate político, não há proposta política;

· As Novas Diretrizes Curriculares para o Jornalismo traz em seu conteúdo questões referentes a pesquisa e a extensão colocando-os como atividades complementares e não mais como pilar fundamental para a garantia da formação profissional qualificada e humanística; Para nós a pesquisa e extensão compõe os três pilares necessários para a garantia mínima de uma formação qualificada: ensino, pesquisa e extensão;

· A proposta das NDJ não contempla a pesquisa na área da comunicação social, nem muito menos na área de Jornalismo, a partir do momento que aponta os Trabalhos de Conclusão de Curso (TCC) como trabalhos práticos de cunho jornalístico, impossibilitando ao estudante a carreira acadêmica e/ou pesquisador.

A partir destes pontos citados, entendemos que o processo de construção das NDJ foi construído de maneira vertical, sendo uma proposta feita por uma comissão de especialistas que, de longe, não contempla as organizações políticas que pensam, debatem e formulam políticas para a comunicação social no Brasil. O resultado desta construção antidemocrática é a inexistência de debates políticos nas escolas de comunicação do Brasil sobre as NDJ, o que é para nós, uma construção equivocada de uma proposta que representa somente os interesses do mercado e das empresas jornalísticas.

O objetivo das NDJ está claro: lançar para o mercado, em um curto espaço de tempo, profissionais minimamente capacitados para reproduzir a técnica jornalística sem questionar as condições indignas de trabalho que hoje os trabalhadores sofrem e sem refletir sobre o papel que a comunicação exercer na manutenção do status quo da sociedade, assim como ela, opressora, desigual e a serviço da classe dominante.

Entendemos que a proposta de diretrizes para o Jornalismo não só interessa aos jornalistas, estudantes da habilitação ou pessoas que trabalham em jornais e/ou redações, interessam a todos os comunicadores sociais. O que está colocado para nós com a NDJ é a extinção da área de Comunicação Social como área de conhecimento, assim como se fez com o Jornalismo e se quer fazer com Relações Públicas. A inexistência do debate político encobriu e fragmentou a discussão impossibilitando ao conjunto dos interessados pelo tema, uma compreensão macro dos fatos envolvidos.

Para tanto, nós da ENECOS, somos contra o método utilizado pelo MEC/Comissão de Especialistas para a construção das NDJ, inclusive lamentamos, enquanto estudantes, que a proposta do Jornalismo não consiga, em sua própria construção, garantir a pluralidade das vozes envolvidas nos fatos.

Para nós, é necessário que a proposta de Diretrizes Curriculares para o Jornalismo, neste momento, seja paralisada, ou seja, que não se aprove as NDJ e que se reabra audiências públicas e debates políticos em todos os estados do Brasil até o final do ano de 2010, para minimamente garantirmos o debate e a formulação política sobre o tema. Depois de feito os debates políticos, abriremos um processo de plebiscito nas escolas de comunicação, no primeiro semestre de 2011, para votar se queremos ou não a separação das habilitações e a extinção da área de Comunicação Social. Sinalizamos desde então, que não concordamos nem muito menos iremos compactuar com as NDJ construída de maneira antidemocrática, que não representa os interesses do povo e que só está a serviço das empresas.

Gostaríamos de dizer que estamos dispostos às discussões políticas, assim como também estamos dispostos a nos mantermos mobilizados para enfrentar qualquer proposta que desloque nossa formação profissional, tão e somente para o mercado, descontextualizando a nossa verdadeira função social que é estar a serviço do povo e da classe trabalhadora.



Executiva Nacional dos Estudantes de Comunicação Social - ENECOS



EM DEFESA DA NOSSA FORMAÇÃO PROFISSIONAL
SOMOS TODOS COMUNICAÇÃO SOCIAL!

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

O maior espetáculo da Terra

O resgate dos 33 mineradores que passaram mais de dois meses soterrados no deserto do Atacama atraiu quase dois mil jornalistas de 220 meios de comunicação de 40 países. Um dos maiores eventos midiáticos da história

14.10.2010

Pela televisão, pelo rádio, pelos jornais e pela Internet. Foi assim que um público estimado em um bilhão de pessoas no mundo inteiro acompanhou, ao longo do dia de ontem, o resgate dos 33 mineiros soterrados, após desabamento da mina de San José, no último dia 5 de agosto, em Copiapó, no Chile.

A presença da imprensa criou um clima de espetáculo em torno do resgate dos mineiros, com coberturas ao vivo que transformou a história em um fenômeno midiático quase sem precedentes.


Segundo a Secretaria de Comunicações do Governo do Chile, quase dois mil jornalistas de 220 meios de comunicação de 40 países e de 80 meios chilenos cobriram o caso durante os últimos dois meses. A enorme quantidade de jornalistas na pequena cidade do norte do Chile – Copiapó fica a 53 km da mina San José e possui 50 mil habitantes – lotou os três mil leitos de hotéis disponíveis na cidade, conforme informou a Câmara de Turismo local.

Como a procura por alimentação, hospedagem e transporte era grande, os moradores e comerciantes de Copiapó resolveram lucrar. Proprietários de restaurantes e hotéis e taxistas chegaram a pedir mais do que o dobro do valor que costumavam cobrar pelos serviços prestados, antes do acontecimento.

Segundo correspondentes da BBC Brasil no Chile, o resgate dos mineiros atraiu cobertura maior do que mesmo o terremoto de 8,8 pontos na escala Richter que devastou o Chile em fevereiro.

O drama é, segundo o jornal britânico The Guardian, parecido com o reality show Big Brother, no qual os premiados, após o cofinamento, são recebidos do lado de fora por familiares emocionados e prêmios valiosos. Com o diferencial de que as pessoas se importam de verdade com o que aconteceu com os mineiros.

Especulações
A imprensa já especula sobre os ganhos financeiros que o caso pode render ao grupo de 32 chilenos e um boliviano. Entrevistas exclusivas e contratos de livros foram propostos quando estavam ainda debaixo da terra, por intermédio do assessor de imprensa da Associação Chilena de Segurança, Alejandro Pino, que ministrou, inclusive, aulas de retórica e de como se comportar na frente das câmeras, por videoconferência, aos mineiros.
Contudo, os resgatados pediram privacidade aos jornalistas nos próximos dias. “Não nos tratem como artistas. Sou mineiro”, disse o segundo mineiro chileno resgatado, Mario Sepulveda.

De acordo com Pino, eles falarão à imprensa quando saírem do hospital, onde receberam os primeiros socorros, e quando se reunirem com suas famílias. Ele garantiu que, quando chegar o momento, os mineiros vão contar tudo e muito bem. (com agências de notícias)

Fonte: O Povo

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Eugênio Bucci fala sobre mídia, liberdade de imprensa e ética nas campanhas eleitorais


O jornalista Eugênio Bucci é formado em Comunicação Social pela Escola de Comunicação e Artes, a ECA-USP, e em direito pela São Francisco. Nos anos 90, foi diretor de redação de revistas como Superinteressante, Playboy e Quatro Rodas e crítico de cultura e televisão dos jornais Folha de S. Paulo, Jornal do Brasil e das revistas Veja, Nova Escola e Sem Fronteiras.

Entre 2003 e 2007 dirigiu a Radiobrás, hoje Empresa Brasileira de Comunicação, trabalho que foi devidamente elogiado pelos principais veículos de comunicação, políticos e intelectuais brasileiros e reconhecido com prêmios nacionais e internacionais. Em 2007 integrou o Conselho Curador da Fundação Padre Anchieta (TV Cultura de São Paulo), onde permaneceu até este ano. Atualmente é professor doutor da ECA, pesquisador visitante do Instituto de Estudos Avançados, o IEA, também da USP, e colunista do jornal O Estado de S. Paulo e do site Observatório de Imprensa.

O papo hoje é sobre mídia, jornalismo, ética, censura e credibilidade jornalistica com Eugênio Bucci, que também é autor de livros como Sobre Ética e Imprensa e A Imprensa e o Dever da Liberdade.

A seguir, trechos da entrevista:

Paulo Lima: Como você vê hoje a profissão de jornalista? A imprensa no Brasil é absolutamente desenvolvida; por outro lado tem uma certa crise rondando, não só em números, especialmente na mídia impressa, nos jornais, mas tem um questionamento, um repensar da atividade em função dessa explosão das mídias digitais. O que vem por aí, em termos de mercado de trabalho e qualidade do ambiente?

Eugênio Bucci: Sem dúvida, tem uma profunda revolução no jornalismo no mundo inteiro, não só por causa da crise econômica, que aliás dá sinal de que já foi; nós não estamos mais em crise. Houve uma reacomodação muito profunda e irreversível de grandes redações nos Estados Unidos, mas o fato é que a sociedade precisa cada vez mais do relato independente. O jornalismo oferece para a democracia esse ponto de vista que não está tutelado, coordenado, manipulado por interesses comerciais ou governamentais. É verdade que os jornais, revistas, canais de televisao, tem uma série de interesses, incorrem em erros toda hora; mas o ideal da imprensa, que é de fornecer um relato independente, esse ideal permanece - e as pessoas procuram. Tanto que as críticas aparecem quando alguém levanta uma suspeita de que eles não sao tão independentes assim. O momento é promissor. Eu sou muito otimista em relação a isso.

A gente está vivendo um momento efervescente, com o presidente Lula criticando a imprensa nesse momento de campanha, questionando e reclamando; e de certa forma, até de maneira velada, ameaçando. Como você tem visto isso?

Olha, eu tive muita sorte na vida; e em parte eu tive muita sorte em 2003, quando fui pra Brasília presidir uma estatal de comunicação e convivi mais de perto com o presidente da República que eu já conhecia de outros tempos. Eu acho uma figura genial; um dos homens mais inteligentes que eu já conheci. Uma capacidade de articular números, dados, geografia, tendências. Às vezes tendências q não estão claras, ele intui. Uma figura impressionante em muitos sentidos. E eu considero que existe nele um compromisso verdadeiro, de vida, com as causas mais relevantes.

Agora, recentemente, ele fez declarações muito graves, indevidas, impróprias com relação à imprensa. Uma delas é essa de dizer que a liberdade de imprensa é sagrada, mas que ela existe para que as pessoas tenham informações corretas. Em princípio todo mundo vai estar de acordo com isso. Mas há uma inconsistência nessa afirmação que é uma sutileza que a gente precisa entender, e explicar. A liberdade de imprensa foi conquistada na democracia para que as pessoas digam o que elas pensam. É a liberdade de expressão, é a liberdade de pensamento, liberdade de opção religiosa. E nem sempre o que eu penso vai ser considerado correto por você. Se nós dependermos de um presidente da República dizer o que é correto e incorreto para que a liberdade exista nós caímos imediatamente na tirania, no totalitarismo.

A liberdade de imprensa existe para as informações que as autoridades vão achar que são incorretas. Existe para a crítica. E um presidente jamais deveria estabelecer essa condicionante. Devia atuar no sentido oposto, de assegurar que a liberdade sustenta a expressão crítica e daquilo que incomoda a autoridade. Isso foi muito negativo do ponto de vista de quem é jornalista como eu, e foi negativo na deseducação da opinião pública sobre o que a imprensa representa. Agora, isso na minha opinião não ameaça de forma alguma a ordem democrática. Tanto que ele falou isso, eu coloco essa afirmação no campo da 'bobagem' - e o presidente da República tem direito de dizer bobagem, vamos respeitar. Mas o fato é que a democracia segue, as eleições seguiram normalmente, a liberdade de imprensa está aí, não foi abalada por causa disso. A democracia no Brasil, ainda bem, não depende do humor do governante. Não é porque o presidente acordou bravo, que a democracia vai tremer nas bases. Então, a vida segue normalmente.
Baixe o programa com Bucci.

Da periferia para a Folha. Oficina de jornalismo comunitário acontece neste final de semana


Nos dias 16, 17/10 e 23 e 24/10 acontece na sede da Folha de S. Paulo a terceira edição da Oficina Mural. O Workshop é organizado pelo jornalista Bruno Garcez, repórter da BBC. O evento tem por intuito buscar correspondentes comunitários e relatar histórias sobre bairros e comunidades da periferia de São Paulo.

A ideia do projeto é recrutar e treinar jovens jornalistas das comunidades afastadas do centro da capital paulista para que o material produzido por eles chegue à grande mídia.

Para participar da oficina não é necessário ser estudante de Jornalismo, nem ser formado na área, mas o interessado deve ter alguma experiência em criar textos, contar histórias, ter blog ou produzir vídeos sobre a periferia da metrópole paulistana.

As inscrições vão até esta quinta-feira (14/10). Para se inscrever deve-se mandar e-mail para bgarcez@gmail.com ou no site do projeto.